quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O problema fundamental que a TV da Apple precisa resolver antes de existir

O CEO da Apple, Tim Cook, confirmou mais uma vez o interesse da empresa no mercado da TV, em sintonia com as pistas que a mesma dá há vários anos. Mas o que os impede? A cada três meses ressurge o rumor de que a Apple estaria prestes a lançar sua própria TV, e eu mesmo já escrevi várias vezes acreditar que a Apple já está neste mercado, comendo pelas beiradas – basta ver a quantidade de donos de iPads que os usam para consumir conteúdo enquanto a TV está ligada ou mesmo trocam a televisão por ele.
O que Tim Cook disse na semana passada foi: “Quando eu vou à sala e ligo a TV, sinto como se tivesse voltado 20 ou 30 anos no tempo. É uma área de intenso interesse. Não posso dizer mais do que isso.”
foto: divulgaçãoApple precisa criar estratégias para chamar a atenção de consumidores para sua TV (Foto: Reprodução)
Eu acredito que ainda vai demorar algum tempo para que vejamos um produto que vá suceder a relativamente popular, mas limitada, Apple TV (que aqui em casa já bate um bolão) e tente realmente fazer avançar em duas ou três décadas a experiência de assistir televisão – por exemplo, podendo escolher o horário para começar a ver qualquer programa, e tendo interação eficaz com a programação e com quem mais estiver assistindo, sem precisar recorrer a um serviço externo (como as redes sociais) para isso.
E a minha razão para acreditar que ainda falta algum tempo se baseia no problema fundamental expresso quando Steve Jobs falou no assunto em 2010: não é a tecnologia ou o conteúdo, mas o mercado. A questão é como convencer a fatia expressiva do público-alvo que já tem TV e um sintonizador/decodificador subsidiado pela operadora de cabo a comprar mais alguma coisa (possivelmente a preço considerável).
A questão é como convencer a fatia expressiva do público-alvo que já tem TV e um sintonizador/decodificador subsidiado pela operadora de cabo a comprar mais alguma coisa"
Augusto Campos
Ele acrescentou que o problema fica mais complexo quando se considera que existe uma quantidade enorme de operadoras, produtoras e distribuidoras envolvidas neste ramo, e várias delas têm padrões diferentes de comunicação de dados, redes separadas e estão sujeitas a regulamentações diferentes.
Quando analisou o assunto recentemente, o The Verge notou que da entrevista de 2010 pra cá bastante coisa mudou: grandes fatias do público já estão comprando aparelhos adicionais para plugar e prover programação para suas TVs cada vez mais inteligentes (quantas caixinhas com leds piscando estão conectadas à sua?), e as operadoras de TV a cabo estão se encarregando de transmitir cada vez mais programação por um padrão comum: o IP, pela própria Internet nossa de cada dia, frequentemente provida pela mesma empresa.
Com o avanço, quando este aspecto for superado, restará à Apple o dilema: trabalhar com as operadoras hoje existentes, ou ir buscar o conteúdo diretamente nas produtoras. No caso da telefonia, a Apple preferiu tratar com as operadoras, afinal a alternativa seria ela mesma operar telecomunicações (assumindo o custo de fazer tudo do seu jeito).
No caso da TV, as opções são similares: se ela for buscar a programação diretamente de quem a produz vai virar uma operadora, assumindo custos e riscos bem fora da sua área de negócio. Se lidar com as já existentes, terá que ceder parte do controle sobre a distribuição do conteúdo (mas elas terão que ceder muito mais).
Nada inédito: o lançamento da loja de música do iTunes teve dificuldades similares, até conseguir convencer as maiores gravadoras a permitir e aderir ao modelo. Mas, naquela época, a Apple tinha Steve Jobs para ir lá e negociar. Desta vez, veremos se seus sucessores estão à altura!

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