Don Tapscott fala sobre como resolver os problemas do mundo (Foto: Nick Ellis/TechTudo)
Don acredita que o mundo está com muitos problemas, como as mudanças
climáticas, e citou Bill Clinton, em um discurso em Davos alguns anos
atrás, no qual disse que mesmo que nós sejamos capazes de reduzir as
emissões de carbono do planeta em até 80% até 2050, ainda vai levar mais
de 1000 anos para o planeta esfrie, e enquanto isto, você pode esperar
coisas ruins aconteçam. Ele explica que a curto prazo, não importa o que
façamos, o mundo irá sofrer, e muitas milhões de pessoas irão passar
por dificuldades, mas lembrou que ainda existem muitos outros problemas,
como conflitos no mundo, doenças infecciosas, extinção de espécies,
água, e a horrível violência sexual, com o caso de estupro na Índia.“Será que todos estes problemas são realmente tão difíceis de resolver, ou nosso modelo atual está completamente errado? O modelo que usamos atualmente data do final da Segunda Guerra, quando foram criadas uma série de instituições globais como o Banco Mundial, as Nações Unidas, etc. Se você for a uma reunião de uma destas instituições, as únicas pessoas que podem votar ou falar são os representantes formais, você não pode falar, não tem voz. Este é o modelo que tivemos nos últimos 60 anos, e que não funciona”, conta Tapscott.
Para Tapscott, a segunda revolução que pode resolver os problemas do mundo é a demográfica. “A maior parte de vocês na plateia nasceu depois de 1977. Vocês são a primeira geração a crescer usando tecnologia digital. A minha geração cresceu assistindo TV, mas a sua geração não é uma receptora passiva de conteúdo. Vocês são os atores, os iniciadores, os compositores, aqueles que se lembram, os construtores, os autenticadores. Não existe força mais poderosa para mudar a instituição do que a primeira geração de nativos digitais. Eu sou um imigrante digital, eu preciso aprender a linguagem. Eu estudei 11 mil jovens em vários países do mundo, incluindo o Brasil. Esta é a primeira geração global da história. E a razão para isto é que a juventude de todos os países nunca teve uma forma de se comunicarem, e agora vocês têm isto.”
A terceira revolução está em andamento, é a social. “Eu não estou falando de um bilhão de pessoas no Facebook, a mídia social está virando produção social. Não é apenas conversar online, isto é um novo meio de produção. Isto pode mudar não apenas a maneira como colaboramos, nos comunicamos, nos apaixonamos e nos informamos sobre o que nossos amigos estão fazendo. Isto pode mudar profundamente a estrutura, a arquitetura de uma corporação, como orquestramos nossa capacidade para inovar, criar produtos e serviços. Na Campus Party, você vê várias organizações colaborando para resolver problemas, para criar renda, para criar uma nova startup. Estamos em um tempo de grande empreendedorismo, e podemos ver isto no Brasil, onde uma pequena empresa pode ter o mesmo desempenho de uma grande empresa, sem a burocracia.
Don Tapscott diz que precisamos repensar a maneira de enfrentar o problemas (Foto: Reprodução / Flickr Campus Party)
Don Tapscott acredita que isto está criando uma revolução na economia,
na qual as instituições estão se tornando redes. A próxima grande
mudança é a oportunidade de repensar a civilização. “Alguns séculos
atrás, as únicas pessoas que tinham informação e poder eram os nobres e a
Igreja. Com a invenção de Gutenberg, tudo mudou. Hoje algo muito
importante está acontecendo, e vocês estão no coração disto. Este novo
meio de comunicação humana é ainda mais importante que a invenção da
imprensa, e está revolucionando todas as instituições. A imprensa nos
dava acesso to a palavra escrita, mas a internet permite que cada um de
vocês seja um editor de livros. A internet nos dá acesso não apenas a
informação, mas a inteligência de outras pessoas. Esta não é uma era da
informação, e sim uma era da inteligência em rede.“Cada vez mais temos uma economia global”, conta Tapscott. “Nós precisamos repensar a maneira de enfrentar o problemas. O grupo Invisible Children, por exemplo, tomou para a si a missão de denunciar Joseph Kony para o mundo inteiro através de um vídeo. Kony é um tirano responsável pelo seqüestro de 65 mil crianças em Uganda. As meninas viram escravas sexuais, e os meninos viram soldados e os que não obedecem têm o rosto cortado, ou precisam ir matar suas próprias famílias. Na segunda que vi o vídeo ele tinha 12.000 visualizações, quando olhei novamente na sexta, 81 milhões de pessoas tinham visto o vídeo. O resultado é que o tirano Kony ficou famoso, e teve que fugir do país.”
Tapscott diz que o Wikileaks é parte deste novo modelo, assim como o Creative Commons e a The Alliance, organização que luta pela proteção do clima. Embora controverso, outro exemplo de como mudar o mundo é o Anonymous, na verdade um ecossistema ao invés de uma corporação. Seu lema é: “Você não deve temer seu governo, ele deve temer você.”
Tapscott explica como revolução tecnológica pode nos ajudar (Foto: Reprodução / Flickr Campus Party)
Apesar dos governos não conseguirem reduzir suas emissões de carbono em
até 80%, mais de 10 milhões de pessoas estão se organizando sozinhas
para tentar amenizar este problema. “De que forma podemos resolver esta
questão? 20 milhões de curtidas no Facebook não são a solução, e sim a
organização de campanhas para reduzir a emissão. São indivíduos que se
juntam para resolver os problemas. O que acontece aqui na Campus Party
também acontece no mundo inteiro. Na ponta dos dedos você tem a
ferramenta mais poderosa do mundo para criar renda, para descobrir o que
está realmente acontecendo com nossas start-ups, para respostas
coletivas e para resolver problemas. Você é parte da rede de solução
global.”Tapscott diz que “a auto organização sempre esteve presente na história humana, citando como exemplo a língua, a ciência e até mesmo os governos. A diferença é que o que antes levava muitos anos, agora acontece rápido.” Comparando a revoada de pássaros com uma rede, ele diz que “existe liderança, mas não existe líder. A proximidade entre os pássaros protege do frio durante a noite quanto dos predadores”.
Com este novo modelo para mudar o mundo sem a participação dos governos, você pode não só ler um livro, mas também publicar o seu próprio. Não apenas ouvir uma música mas também remixar. “Imagine por um segundo se podemos nos conectar ainda mais neste planeta. Não apenas compartilhar informação e sim conhecimento e inteligência. Podemos criar uma consciência global”, concluiu.
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