O Projeto Sartre
prevê veículos equipados com sistemas de navegação e unidades de
transmissão e recepção de dados que se comunicam em um comboio com um
veículo-líder.[Imagem: Sartre]
Motoristas poderão não precisar mais de uma carteira de habilitação em 2040.
Pelo menos é nisso que acredita o renomado IEEE (Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos, na sigla em inglês).
Os especialistas acreditam que os carros autônomos, capazes de dirigir por contra própria para qualquer destino, estão prestes a se tornar a norma no mercado.
Com a estimativa de que 90% dos acidentes de carro sejam causados por erro humano, tirar as pessoas fora da equação é algo que muitos fabricantes de automóvel acreditam ser um grande salto na segurança.
O problema é que a maioria dos motoristas qualificados não parece acreditar que o problema está neles.
"A maioria dos motoristas pensa que é melhor do que o motorista médio," explica o Dr. Graham Hole, da Universidade de Sussex, no Reino Unido, especialista em psicologia da direção.
"As pessoas têm tipicamente uma visão muito inflada de suas próprias habilidades quando o assunto é dirigir um carro," diz ele.
Tecnologias dos carros sem motorista
Um grande número de empresas está investindo em tecnologias de condução autônoma, os chamados carros sem motorista.
General Motors, Volkswagen, Volvo, BMW, Audi, Mercedes e muitas outras montadoras e fabricantes de autopeças - além, é claro, do Google - estão fazendo testes com veículos autônomos em um nível difícil de imaginar há poucos anos.
A Volvo levou um comboio de veículos sem motorista por 200 km de estradas normais na Espanha. [Imagem: Volvo]
E se há um vencedor claro, estariam os motoristas - ou mesmo os peritos técnicos - convencidos dos resultados?
Ainda que os números expressem corretamente a realidade, ainda será necessário uma boa campanha de convencimento antes que o controle dos automóveis possa ser entregue aos computadores.
Os psicólogos acreditam que as pessoas têm mais medo de coisas que não estão sob seu controle direto, o que explicaria o medo de voar, o medo da energia nuclear e até mesmo dos conservantes de alimentos.
Com relação aos motoristas, têm sido levantadas questões sobre o quão confortável uma pessoa se sentirá no hoje "banco do motorista" quando ela não estiver controlando o carro.
Mesmo alguns psicólogos estão preocupados com a segurança que se pode obter de ter um computador no controle de um automóvel.
"A realidade da situação é que os ambientes de condução são muito complexos e envolvem todos os tipos de decisões a serem tomadas - de níveis estratégicos até o nível operacional da prevenção de colisões," diz o Dr. Hole.
"Os seres humanos têm suas falhas, mas são processadores de informação extremamente eficientes, muito melhores do que qualquer máquina na proteção contra riscos."
Com isso, o bem conhecido termo computer crash (travamento de computador) está sendo usado como analogia para car crash (batida de carro) para descrever o que pode acontecer com os carros sem motorista.
Uma etapa intermediária para a aceitação da tecnologia seria dar aos carros uma inteligência para que eles só assumam a direção para evitar acidentes. [Imagem: Fraunhofer IITB]
As empresas de engenharia e as montadoras, por seu lado, esperam que seja apenas uma questão de tempo até que as pessoas absorvam a ideia.
Os projetistas fazem questão de salientar a multiplicidade de mecanismos pelos quais a segurança é mantida mesmo quando ocorre uma falha técnica.
No Projeto Sartre, por exemplo, o sistema monitora a si próprio e, se mesmo assim parece que algo poderia acontecer, as distâncias entre os carros são alongadas e os motoristas são avisados de que estão prestes a assumir o controle.
Se alguma coisa continua dando errado, então os carros são levados para o acostamento e parados. E os especialistas do Sartre afirmam que esta é apenas uma das maneiras que um problema como este pode ser tratado.
"É claro que as pessoas vão ter que se acostumar com esta nova tecnologia", sentencia Eric Chan, coordenador do projeto.
"Ela muda de maneira fundamental sua relação pessoal com o seu carro. Quando os cintos de segurança foram introduzidos, quando os airbags foram introduzidos, os chamados pilotos automáticos, havia um monte de pessoas que se mostrou nervosa com relação a essas tecnologias. Com o tempo, as pessoas se acostumaram a elas e perceberam os benefícios de segurança," alega ele.
Além da tecnologia
Contudo, apesar da esperança demonstrada por Eric Schmidt, presidente do Google, de que "carros que se autodirigem devam tornar-se o modo predominante de transporte durante o nosso tempo vida," pode ser que mesmo um pequeno risco possa ser demais para que algumas pessoas sintam-se confortáveis em retirar o motorista completamente.
O que aconteceria se a tecnologia falhar e nenhuma pessoa no carro souber "dirigir manualmente"?
"A sociedade vai achar isso muito difícil," diz Peter Rodger, especialista em regras de direção. "Estamos cada vez mais em uma cultura da culpa. Quando algo dá errado, procuramos alguém para culpar."
Ou seja, desfrutar do conforto de fazer uma viagem de carro sem precisar se preocupar em "fazer o carro funcionar" não é algo que vai depender unicamente da tecnologia.
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