Nanopartículas cerâmicas com plástico
Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estão desenvolvendo uma nova categoria de materiais poliméricos.
Entre outras façanhas, esses novos materiais poderão ajudar a
baratear os polímeros biodegradáveis disponíveis atualmente no mercado,
além de dar origem a diversas soluções nas áreas da medicina e meio
ambiente.
Compostos por partículas de materiais cerâmicos e poliméricos
(plásticos), com dimensões em escala nanométrica (1 nanômetro equivale a
um milionésima de milímetro), dispersas em uma matriz polimérica, esses
novos materiais apresentam melhores propriedades mecânicas, ópticas e
de transporte do que os polímeros convencionais.
"A combinação de nanopartículas com a matriz polimérica confere
melhores propriedades mecânicas, ópticas e de transporte ao plástico
final. No caso, por exemplo, de produtos como sacolas plásticas, também
possibilita diminuir a quantidade de polímero biodegradável e o custo do
material final, melhorando suas propriedades mecânicas e de transporte e
mantendo a capacidade de mais rápida degradação em comparação com os
polímeros tradicionais", disse Rosário Elida Suman Bretas, coordenadora
do projeto.
Esses novos sistemas poliméricos nanoestruturados têm diversas
aplicações na área de embalagens, uma vez que diversos polímeros
comerciais possuem limitações para serem utilizados para esse fim, como
não apresentarem a transparência necessária.
Ao misturá-los com outros polímeros em escala nanométrica que
apresentam um comportamento mais adequado para serem utilizados como
embalagem, é possível melhorar as propriedades e manter o sistema
polimérico transparente.
"As propriedades mecânicas dos dois polímeros são modificadas quando
eles são misturados. Às vezes um reforça ou melhora a estabilidade
química do outro", disse Elias Hage Júnior, um dos pesquisadores do
projeto.
Suporte para crescimento de células
Outras possíveis aplicações dessas misturas de plásticos e cerâmica
estão na medicina, para o desenvolvimento de nanofibras poliméricas que
servem de suporte de crescimento e diferenciação de células-tronco.
Formadas por polímeros com diâmetro nanométrico, nos quais são
incorporadas nanopartículas de compostos biocompatíveis com o corpo
humano, como a hidroxiopatita (mineral que representa 70% da composição
dos ossos), as nanofibras compõem um emaranhado que é muito parecido com
a matriz extracelular, que sustenta as células humanas.
Ao colocar células sobre esse emaranhado de nanofibras, elas se
sentem "em casa" e se ancoram no material, conforme observaram os
pesquisadores do grupo em trabalhos realizados em conjunto com
cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da
Universidade de Estrasburgo, na França.
"O plástico tem proporcionado saídas espetaculares em certas áreas
como a medicina devido ao fato de a maior parte dos polímeros ser
biocompatível com o corpo humano", disse Bretas.
Sensores de pH
Na área ambiental, uma das possibilidades de aplicação dos sistemas poliméricos nanoestruturados está em sensores para medir o pH (acidez).
Os pesquisadores acabaram de desenvolver um tecido com essa
finalidade, composto pela incorporação de polianilina (um polímero que
muda de cor de acordo com a condutividade) na forma nanométrica disperso
em outro polímero, a poliamida 6 (náilon).
"Estamos desenvolvendo esses produtos em escala de laboratório e
ainda deverá levar um tempo para serem produzidos em escala industrial,
principalmente porque são caros e é preciso incorporar um gasto de
energia muito maior do que necessário para produzir os polímeros
convencionais", explicou a professora Rosário.
Desafios tecnológicos
Um dos desafios tecnológicos com que os pesquisadores se defrontam
para realizar essas misturas de polímeros é compatibilizar suas
características. Apesar de terem a mesma origem (são todos orgânicos),
eles apresentam propriedades e características diferentes.
Outro grande desafio é dispersar e distribuir as partículas em escala
nanométrica dentro da massa geralmente fundida da matriz de polímero
que, em função de suas forças viscoelásticas, faz com que as
nanopartículas se agreguem, formando aglomerados - enquanto o ideal é
que as nanopartículas permaneçam longe uma das outras para, dessa forma,
reforçarem as propriedades do plástico final.
"É como se tentasse pegar mel quente e distribuir dentro dele partículas que são invisíveis a olho nu", comparou Rosário.
Para desenvolver esses novos materiais, os pesquisadores utilizam os
mesmos equipamentos empregados para produção dos plásticos
convencionais, como extrusoras. Entretanto, de acordo com Rosário,
talvez será preciso, no futuro, utilizar outros processos.
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