Um time de bilionários norte-americanos apresentou planos para iniciar a era da mineração espacial, explorando água e metais de asteroides.
A proposta é ousada porque, apesar dos primeiros esforços da iniciativa privada rumo à exploração espacial, o único negócio espacial propriamente dito hoje são os satélites artificiais.
Tudo o mais é ciência espacial, bancada por governos e por algumas entidades sem fins lucrativos.
A era das naves espaciais privadas já está em andamento, mas mesmo o turismo espacial está com sua agenda bastante atrasada em relação ao previsto - a construção do primeiro hotel espacial deveria ter começado em 2006, e os turistas já deveriam estar admirando as paisagens terrestres desde 2008, ou voando em um avião-foguete desde 2010.
Isto faz com que os planos da recém-lançada Planetary Resources sejam vistos com enorme interesse, mas sem dar muita atenção à agenda proposta.
A empresa fala em prospecção mineral no espaço em um prazo de cinco a 10 anos - a prospecção é a etapa que antecede a mineração, consistindo na identificação dos depósitos minerais e na verificação de sua viabilidade econômica.
Prospecção mineral espacial
A prospecção mineral espacial começará pelos asteroides.
O plano consiste em lançar um telescópio espacial, pequeno, mas muito versátil, capaz de observar com precisão os chamados NEOs (Near Earth Objects, objetos próximos à Terra), os mesmos asteroides que vez por outra passam raspando pela Terra, e mais raramente se chocam com nosso planeta.
O "mineral" de interesse mais imediato é a água, que poderia ser eletrolisada usando energia solar para criar oxigênio e hidrogênio - combustíveis para as etapas seguintes da mineração e da exploração espacial em geral.
Finalmente, uma vez encontrados, seriam explorados outros minerais, embora a empresa não tenha ainda planos precisos de como extrair ouro e platina, ou qualquer outro metal de um asteroide, e trazer tudo para a Terra.
Falar em ouro e platina atrai a atenção, devido ao elevado valor desses metais. Mas a Planetary Resources terá que se preocupar com recursos aqui na Terra mesmo, se quiser viabilizar um projeto de longo prazo em busca de recursos minerais espaciais.
Os
entraves econômicos do projeto darão tempo para que uma negociação
internacional estabeleça um tratado determinando a quem pertencem os
asteroides. [Imagem: Planetary Resources]
A empresa afirma estar ciente disso, mas que está contando com "inovações em custo".
"Nós estamos incorporando inovações recentes na microeletrônica, dispositivos médicos e tecnologia da informação de uma forma que não é usada tradicionalmente por espaçonaves robóticas," diz a empresa.
Entre essas tecnologias destacam-se naves capazes de voar em formação, comunicações espaciais por meios ópticos e micropropulsores.
"A Planetary Resources está trabalhando ativamente nestas áreas por conta própria, assim como para a NASA e para o benefício de toda a comunidade científica espacial."
Isto parece dar uma pista muito clara, não apenas do primeiro grande cliente da empresa, como também da "carteira de tecnologias" à sua disposição, dispensando os custos de desenvolvimento - eventualmente uma das "inovações" para diminuição dos custos.
A NASA já anunciou que enviará uma sonda robotizada para coletar amostras de um asteroide e até já fez simulações de uma missão tripulada a um asteroide.
A Planetary Resources afirma que usará os estudos da NASA para seleção dos alvos mais promissores. Em troca, os levantamentos de suas sondas robóticas poderão ajudar a agência espacial a selecionar alvos para futuras missões tripuladas.
O
telescópio espacial Leo será a primeira e fundamental etapa no projeto
da empresa, permitindo a observação precisa dos asteroides nas
proximidades da Terra a partir de uma órbita baixa. [Imagem: Planetary
Resources]
O primeiro mineral de interesse será a água, que pode fornecer suprimentos para voos espaciais mais ousados, incluindo, além de água potável e ar, proteção contra radiação espacial e combustível.
A empresa afirma ter mapeado pelo menos 1.500 asteroides que seriam "tão fáceis de alcançar quanto a Lua". Considerando a viagem de volta, esse número sobe para mais de 4.000.
Na verdade, é mais fácil aproximar, pousar e decolar de um asteroide do que da Lua porque a gravidade desses corpos é muitíssimo menor - praticamente toda a operação pode ser feita com os micropropulsores usados para manobras de satélites artificiais.
O próximo passo serão os metais, sobretudo os do grupo da platina, usados em catalisadores e em outras aplicações de alta tecnologia.
"Além de trazê-los de volta para a Terra, os metais dos asteroides também poderão ser usados diretamente no espaço. Metais como ferro e alumínio podem ser levados para pontos de coleta no espaço para serem usados como material de construção, fabricação de escudos para espaçonaves e como matéria-prima para processos industriais, por exemplo, em uma futura estação espacial da NASA em L2," disse a empresa, referindo ao ponto de Lagrange, onde a gravidade da Terra e da Lua se anulam.
O Interceptor
é um telescópio Leo com propulsão e instrumentação científica
adicional. Ele ficará baseado em uma órbita geoestacionária e disparado
assim que um asteroide for flagrado aproximando-se da Terra, indo até
ele para coletar mais informações. [Imagem: Planetary Resources]
Encontrar depósitos minerais na Terra já não é fácil, e minerá-los também não é algo tão simples quanto possa parecer porque os elementos químicos geralmente vêm em compostos que precisam ser quebrados - cada mina precisa adaptar o processo à composição química do seu próprio minério.
Junte-se a isso o fato de que missões espaciais podem ser tudo, menos baratas, e é fácil concluir que dificilmente uma empresa se viabilizará economicamente neste século fazendo mineração espacial.
A russa Phobos-Grunt planejava trazer 200 gramas de amostras da lua Fobos de Marte a um custo incrivelmente baixo, de US$160 milhões, mas falhou na tentativa.
Mesmo assim, a "poeira" espacial, com valor científico inestimável, teria um "valor de mercado" de US$800 milhões o quilograma.
A próxima opção é a Osiris-Rex, da NASA, que pretende trazer 60 gramas do asteroide RQ36, a um custo de US$800 milhões, sem contar o foguete, que ainda não foi definido - o que vai inflacionar o preço da poeira espacial para US$13,3 bilhões o quilograma, no mínimo.
A ainda incerta ExoMars vai custar US$1,6 bilhão, mas ainda não está definido quantos gramas ela poderá trazer da poeira de Marte.
Por outro lado, em um esquema "industrial", em que diversas naves gêmeas sejam lançadas, o custo pode cair rapidamente: é o que acontecerá com a sonda japonesa Hayabusa, que teve sucesso limitado na primeira tentativa, mas que será seguida por uma irmã-gêmea nos próximos anos, sem que a JAXA precise arcar com novos custos de desenvolvimento.
O lado positivo é que esses entraves econômicos darão tempo para que uma negociação internacional estabeleça um tratado determinando a quem pertencem os asteroides, como eles deverão ser explorados e a quem caberá os benefícios dessa exploração - eventualmente fundando a era do ambientalismo espacial.
O Rendezvous Prospector será um Interceptor com comunicação a laser e maior autonomia, permitindo alcançar asteroides mais distantes. [Imagem: Planetary Resources]
A Planetary Resources tem a seu favor o fato de que os custos elevados da exploração espacial derivam de empreendimentos estatais.
"O objetivo de curto prazo da Planetary Resources é reduzir dramaticamente o custo da exploração de um asteroide," afirma a empresa.
"Nós vamos combinar as melhores práticas de inovação aeroespacial comercial, adaptabilidade operacional e manufatura rápida para criar exploradores robotizados que custarão uma ordem de magnitude menos do que os sistemas atuais." - isto significa 10 vezes menos.
É fato que, se o homem planeja explorar o espaço, é necessário começar de alguma forma.
Mas também é fato que, sem previsão de lucrar com a empreitada, tudo indica que o projeto é mais um que gravitará em torno da cada vez mais privatizada NASA.
As naves provavelmente sairão mais baratas do que se fossem fabricadas pelo governo. Contudo, levando em conta o lucro privado que passa a entrar na equação, o contribuinte não pagará menos pela mesma exploração.
A Planetary Resources foi fundada em 2009 pelos pioneiros do turismo espacial Eric Anderson e Peter Diamandis. Para este projeto, eles receberam o apoio e os recursos financeiros, entre outros, do cineasta James Cameron, Larry Page, um dos fundadores do Google, e do presidente atual da empresa, Eric Schmidt.
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