É difícil de acreditar, mas podemos participar
de um almoço emocionante em mar aberto, cara a cara com tubarões, sem
gaiolas de proteção. Essa tarefa de risco acontece nas águas quentes de
Nassau, capital das Bahamas.
A tensão é inevitável e faz parte desta aventura. A Stuart Cove,
empresa que promove os mergulhos, se encarrega de ir buscar cada
viajante no hotel, para evitar atraso (e desistências, quem sabe?). A
assinatura de um termo de responsabilidade, que isenta a empresa em caso
de acidente – raros na região, destacam os guias – aumenta ainda mais a
dúvida: será que é seguro? Há exigências e regras para (quase) garantir
que, sim, você vai e volta inteiro. Para começar, apenas mergulhadores
certificados podem participar. A principal orientação é nunca fazer
movimentos bruscos perto dos tubarões. No retorno ao barco “Nunca tire
as nadadeiras longe da escada do barco, isso é um belo banquete para as
feras! Segure na escada, ponha o pé no degrau com a nadadeira ainda no
pé, tire a nadadeira, e ponha o pé rapidamente no degrau de cima! A sola
do pé em movimento é semelhante a ação do peixe dentro d´agua e o
tubarão chegará ao seu pé em poucos segundos! Se vocês tiverem algum
valor por seus pés, façam o que estou falando!” alerta NealHarvey,
alimentador de tubarões, passando as informações ao grupo, enquanto o
barco cumpre o trajeto de 2 quilômetros até Bahama Mama. Lá fica o navio
cargueiro Ray of Hope de 200pés naufragado em 2003, em parceria entre o
governo e a iniciativa privada, para servir de recife artificial. A
região é farta em tubarões-tigre e tubarões caribenhos de arrecife,
conhecidos no Brasil como cabeças-de-cesto.
Piadas como “estão prontos para virar comida de tubarão?” tentam
descontrair e aliviar a tensão. Harvey explica que os animais se
aproximam dos mergulhadores por instinto, mas logo tomam outro rumo.
No primeiro mergulho, para reconhecimento da área, chegamos a uma
profundidade de 25 metros. Ver um animal de 2 metros de comprimento
vindo rápido em sua direção e desviando a pouco menos de 2 metros de
distância é aterrorizante. Mas o movimento se repete tantas vezes que
você acaba se acostumando.
O grande momento
No esperado mergulho para alimentar tubarões, podemos ver inúmeros
tubarões na superfície rondando o barco esperando os mergulhadores
caírem novamente na água. É uma imagem difícil de esquecer. Não é fácil
confiar nos animais selvagens e se atirar ao mar. São poucos que se
sentem preparados e confiantes para realizar essa proeza, mas o que
consola o aventureiro é que são raros os ataques na região.
Todos descem a uma profundidade de 15 metros, até a proa da
embarcação naufragada. Vestido com uma roupa de malha de ferro trançada,
Neal Harvey chega depois, com a caixa de alumínio cheia de pedaços de
peixe. Larga a caixa na estrutura de ferro do barco, o que emite um som
similar a um gongo, que dá início ao ritual. A quantidade de tubarões
aumenta – são pelo menos 40 após 15minutos. É possível ver fêmeas de 3
metros de comprimento. O fato de não tocar nas feras com a mão pode
deixar o mergulhador frustrado, mas nem é preciso. Você pode sentir
parte dos corpos dos tubarões batendo nos seus ombros, cabeça e até
mesmo no rosto, enquanto brigam entre si para passar entre os
mergulhadores e alcançar a caixa. Estamos tão próximo dos animais que
podemos ver a riqueza de detalhes de suas íris. E o que era assustador
passa a ser fascinante. De volta à superfície, o entusiasmo toma conta
do grupo, que se cumprimenta com gritos de euforia. O alimentador chega
depois e é recebido sob aplausos. Sua mão sangra. Ele diz que já perdeu a
conta de quantas vezes foi mordido. “Os tubarões sentem que não é peixe
e largam, mas o ferimento é inevitável”, diz. “Vocês não foram mordidos
porque não fizeram movimentos bruscos”, explica, depois de perguntar,
de brincadeira, se estavam todos bem e “com tudo no lugar”.
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