A Dra. Pilar Bosch trabalhando nas pinturas da Igreja de São João, em Valência.[Imagem: RUVID]
Pegue uma obra de arte famosa, daquelas guardadas em museus ou igrejas há séculos, e infeste-a de bactérias.
O que à primeira vez mais se parece com uma receita de vandalismo, está-se mostrando altamente eficaz para limpar pinturas famosas.
Os testes estão sendo conduzidos em pinturas da Igreja de São João, em Valência, na Espanha, e nos murais do Campo Santo, de Pisa, na Itália, por um grupo de cientistas de três instituições espanholas.
A aplicação das bactérias começou em meados do ano passado, em afrescos do pintor Antonio Palomino, do século 17.
As primeiras avaliações mostram que o tipo adequado de microrganismo é capaz de limpar as obras de arte muito rapidamente e sem causar qualquer dano à pintura - e nem ao meio ambiente ou às pessoas.
Eflorescências salinas
O projeto surgiu quando os pesquisadores foram encarregados de restaurar os murais da Igreja de São João, que foram praticamente destruídos em um incêndio em 1936, e indevidamente restaurados na década de 1960.
Pesquisadores italianos já haviam testado o uso de bactérias para remover cola endurecida nas obras de arte.
A equipe espanhola aperfeiçoou a técnica e identificou a cepa da bactéria Pseudomonas mais adequada para literalmente comer as eflorescências salinas que se desenvolveram sobre os afrescos.
"Pela ação da gravidade e da evaporação, os sais de matéria orgânica em decomposição migram para as pinturas e geram uma crosta branca, escondendo a arte," explica Pilar Bosch, coordenadora da equipe.
Bactérias faxineiras
Como os produtos químicos tradicionalmente utilizados na restauração de obras de arte têm seus próprios efeitos colaterais, o jeito é chamar as bactérias.
As bactérias são incorporadas em um gel, que é aplicado sobre a pintura. Isso evita que a umidade penetre na pintura, causando novos problemas.
"Depois de uma hora e meia, nós removemos o gel com as bactérias. A superfície é então limpa e seca," diz a pesquisadora.
Sem o ambiente adequado do gel, as bactérias restantes morrem. E o quadro fica limpo.
"Com os bons resultados dos testes, nós vamos continuar com os estudos e melhorar a técnica, com o objetivo de passá-la para outras superfícies. Como na natureza nós encontramos bactérias que comem praticamente tudo, estamos certos que poderemos eliminar outras substâncias, de diferentes tipos de materiais," conclui a pesquisadora.
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