segunda-feira, 19 de agosto de 2013

AMD fala sobre a era do 'Surround Computing', entenda o conceito

Três bilhões de usuários de Internet, 15 bilhões de dispositivos conectados, dois para cada pessoa. São esses os números que a AMD prevê para 2015. Indo para frente, o maior deles dispara: em 2020, serão 50 bilhões de aparelhos na Internet, com tecnologia celular na maior parte deles. É nesse contexto que a empresa define o início da era do “Surround Computing”.
No Surround Computing, há computadores até nos relógios de pulso, e eles conversam o tempo todo (foto: Reprodução/AMD)No Surround Computing, há computadores até nos relógios de pulso, e eles conversam o tempo todo (Foto: Reprodução/AMD)
O TechTudo conversou recentemente com o Chief Technology Officer da AMD, Mark Papermaster, e o assunto em pauta foi justamente o realinhamento da estratégia da empresa e sua visão sobre o Brasil. Para ele, a explosão na produção de dados que acontece hoje não vai desacelerar tão cedo: somente em 2010, a Internet transportou 245 exabytes (bilhões de gigabytes) de informação, e esse volume estará próximo de 1 zettabyte em 2015. Em 2020, o crescimento exponencial de informação fará circular, a cada ano, pelo menos 35 zettabytes de conteúdo.
Nesse contexto, sua previsão é de que os computadores passem por um fenômeno similar ao que aconteceu com a luz elétrica no começo do século XX: de artigo de luxo, ela passou no prazo de algumas décadas a ser item essencial da vida humana, barata, amplamente disponível, invisível. Estamos entrando na era do “Surround Computing” (Computação Cercante), e nela computadores estarão espalhados em tudo o que puder aceitá-los.
Do “Homem de Ferro” para a sua caneta
Um dos exemplos mais icônicos de Surround Computing na cultura pop atual é a trilogia “Homem de Ferro”, da Paramount Pictures. As invenções que a mansão Stark abriga, apesar de estarem um pouco fora do alcance em 2013, são perfeitamente reproduzíveis. Papermaster analisa a situação: “O que o filme faz, na verdade, é antecipar uma tendência que já está acontecendo. Ainda que o computador hoje seja um armário de ferro e uma tela pela qual possamos acessá-lo, há inúmeros sinais de que as pessoas não querem ficar na frente do monitor para fazer o que precisam. Mais e mais, as interfaces estão se espalhando por todos os ambientes, a experiência da computação está se dissolvendo”.
O que o filme retrata, afinal, não é algo que não exista: reconhecimento de toque, facial, de voz e de gestos; dispersão de dados no ambiente físico por meio de Realidade Aumentada e projeção 3D; inteligência artificial unificada entre vários aparelhos, capaz de entender comandos falados e dar respostas com voz sintética; algoritmos de busca e análise que integrem todos os anteriores. Com exceção da holografia, ainda fora de mão, o que a obra faz é mostrar que não é preciso mais ficar olhando para um único monitor para interagir com dados digitais.
O HapiFork usa inteligência artificial armazenada no cabo para vigiar a frequência de garfadas, e comunica os resultados em outros acessórios via BlueTooth (imagem: Divulgação/HapiFork)O HapiFork usa inteligência artificial armazenada no cabo para vigiar a frequência de garfadas, e comunica os resultados em outros acessórios via Bluetooth (Foto: Divulgação)
Daí surge a necessidade de construir linguagens multiplataforma, que conversem com sucesso com computadores convencionais, tablets, telefones e quaisquer outros aparelhos digitais. Com o código comum, a experiência do usuário torna-se fluida, ininterrupta, baseada numa nuvem de dados que pode ser pessoal – em casa, via roteador ou LAN – ou ligada à rede – pela Internet. Interfaces mais naturais, usando voz ou gestos, contribuem para o conforto da experiência. Em tempo, análises do histórico de atividades podem até mesmo prever as necessidades de cada usuário – tal qual a inteligência artificial Jarvis, do “Homem de Ferro”, faz com seu mestre.
Mesmo objetos ordinários, como canetas ou chaveiros, podem ser integrados à ideia do “Surround Computing”: com um giroscópio e um acelerômetro bem calibrados, uma caneta conectada pode transferir tudo o que escrevesse para um documento no Google Drive, e um chaveiro pode carregar um GPS para conveniência ou segurança da família. O estágio atual de miniaturização desses instrumentos permite aos designers até mesmo integrar circuitos às nossas roupas, em especial pelos avanços da tecnologia Arduino de computação vestível. Os recentes avanços na produção de óculos de Realidade Aumentada significarão, até 2015, que qualquer pessoa pode acessar seus emails ou documentos online sem nem mesmo ter um PC em casa.
Gigantes unidas
O interesse da AMD por esse futuro desagregado é óbvio: entre ela, Intel, IBM, ARM e tantas outras, a responsabilidade (e o dinheiro) que a visão de futuro traz consigo é pesada. Existem dezenas de linguagens de programação e arquitetura de hardware e software concorrendo pelos gostos dos engenheiros de sistema, o que torna penosa e ineficiente a tarefa de conectar aparelhos diversos. Ciente disso, as gigantes decidiram em 2010 decretar trégua na guerra judicial que travavam até então, dando espaço para um intercâmbio de conhecimento intenso. O resultado dessa paz foi a HSA Foundation.
Esse consórcio em prol da HSA – Arquitetura de Sistema Heterogêneo, em inglês – tem uma tarefa monumental: encontrar, entre centenas de modelos de chips e placas, padrões que facilitem a comunicação entre peças de marcas diferentes. Composto por 30 instituições com interesses divergentes – algumas são fabricantes, outras montadoras, um terceiro setor é acadêmico – o grupo atua desde 2010 para criar modelos de montagem, programação e fabricação padronizados. Ele define limites em processos que vão desde a concepção de novas tecnologias até procedimentos de programação. O objetivo final é facilitar a vida de quem quer levar a computação a novas fronteiras, sejam elas no desenvolvimento de software ou em algum invenção mais sólida, como um smartwatch ou um leitor de gestos.
Quando esse trabalho estiver em um estágio avançado, a comunicação entre computadores, servidores e nuvem passará a incluir também quaisquer objetos cotidianos inteligentes, mesmo que usem linguagens diferentes. A distribuição de processadores pelo ambiente trará uma série de vantagens: além de aliviar a carga computacional sobre os PCs, os tornará mais estáveis, e cada objeto poderá se ocupar de decodificar suas próprias captações. Tomemos como exemplo o Kinect, da Microsoft: diferentemente qualquer webcam, que meramente repassa as imagens ao PC, a câmera 3D do Xbox possui um processador interno que interpreta os dados crus e repassa ao videogame um modelo tridimensional já montado da cena. Há um enorme alívio para o sistema central. Em escala maior, essa distribuição poderia até mesmo dar ao usuário a chance de acelerar sistemas previamente disponíveis, numa nuvem de processamento flexível e particular.
Inteligência invisível
Não à toa, a AMD desviou parte de seu grupo de pesquisa para componentes que priorizem economia de energia e entreguem bom processamento em pequenos circuitos. Mesmo no Brasil, o computador de mesa está em queda nas vendas há pelo menos cinco anos, lentamente substituído por smartphones e tablets, e os sinais de diversificação no uso de componentes eletrônicos estão por toda parte. Na última CES, até mesmo garfos passaram a pensar, com análise de frequência das garfadas para controlar os mais apressadinhos. Diante disso, fica fácil entender a ideia do “Surround Computing”: ela aparece quando você leva uma bronca do seu garfo por ter comido rápido, entregue via e-mail nos seus óculos.

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