segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Tablets substituem professores na alfabetização de crianças da Etiópia

Um estudo comandado pela organização One Laptop Per Child ("Um laptop para cada criança", em tradução literal) está promovendo a doação de tablets com aplicativos pré-instalados na Etiópia, país onde muitos jovens não têm acesso a escolas. O objetivo da pesquisa é analisar se os pequenos que ainda não foram alfabetizados conseguem “se virar”, aprendendo a utilizar os programas eletrônicos e até a usar a Internet.
Fundador da empresa responsável pelo projeto ficou satisfeito com resultados (Foto: Reprodução)Fundador da empresa responsável pelo projeto ficou satisfeito com resultados (Foto: Reprodução)
Configurados especialmente para esta missão, os tablets Motorola Xoom usados no experimento vinham com games de treinamento do alfabeto, e-books, filmes, desenhos, imagens para colorir e uma enorme variedade de softwares que as crianças pudessem interagir. O aparelho era carregado por energia solar, por meio de um aparelho instalado por técnicos etíopes. Estes, apenas ensinaram as crianças dos vilarejos a recarregarem os eletrônicos e, uma vez por semana, voltavam ao local para substituir os cartões de memória dos tablets para analisar os dados de utilização.
No experimento, não há professores para auxiliar o uso dos eletrônicos. Afinal, faltam profissionais até mesmo para o ensino fundamental no país, e isso foi o que também motivou a criação deste projeto. A ideia era deixá-los o mais livre possível. E as primeiras impressões, segundo o fundador da OLPC, Nicholas Negroponte, são bastante interessantes.
Depois de alguns meses de observação, os especialistas explicam que muitas crianças já começaram a cantar a “música do alfabeto”, e até dizem algumas palavras. Um menino que gostou muito do jogo de literatura com animais, em um dia, escreveu a palavra “leão” dentro de um app parecido com o “Paint”, do Windows.

O experimento está sendo feito em duas áreas rurais da Etiópia, com aproximadamente 20 crianças: a Wolonchete e a Wonchi. Em ambas, as crianças nunca haviam vido sequer visto materiais impressos em papel. Negroponte, em relatório feito para a revista do MIT, destacou que foi surpreendente o enorme progresso das crianças em tão pouco tempo usando o eletrônico. “Eu achei que eles iam brincar com as caixas e tudo, mas não... em quatro minutosm um menino não só abriu a caixa como achou o botão de ligar e desligar, e ligou o produto pela primeira vez. Em cinco dias eles estavam usando uma média de 47 apps cada um. Em duas semanas, já cantavam a música do ABC na vila. Mas o mais interessante é que em cinco meses eles já haviam hackeado o Android. Alguém da nossa organização desativou as câmeras dos tablets, mas os meninos descobriram que ela existia, ativarem, e então hackearam o Android”, disse ele, impressionado.


Negroponte destacou que as crianças personalizaram seus tablets com o que mais gostaram e, assim, deram grandes sinais de que podem aprender muita coisa se houver investimento. Obviamente, aprender a ler e escrever desta forma não é fácil e os gastos com isso seriam grandes, porém, ele acredita não ser uma tarefa impossível. O pensamento do pesquisador é ambicioso e ousado. “O que podemos fazer por essas 100 milhões de crianças no mundo que não vão para a escola? Podemos dar esta ferramenta para que eles leiam, sem precisar de escolas, professores, cadernos e tudo mais?”, indagou.

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