Os grandes salões automobilísticos mundiais sempre foram palco de belos designs, características mecânicas impecáveis e muita tecnologia embarcada dos modelos expostos, especialmente nos chamados “carros-conceito”. Porém estes recursos pareciam inalcançáveis, uma coisa para décadas adiante. Tecnologias com uso prático, disponíveis para venda, não aquelas para demonstrações curiosas, demoravam para chegar as ruas. E o pouco do que efetivamente saiu das fábricas acabou ficando nas ruas do Japão, um país pioneiro nas tecnologias embarcadas.
O mundo completamente diferente da CES, por outro lado, não tinha espaço para os carros. Na verdade, um dos pavilhões da CES tem sido dedicado aos automóveis há alguns anos, mas nele é mais fácil encontrar toneladas de amplificadores e alto-falantes. Havia pouca coisa que permitisse conectar nossos carros aos gadgets que tanto adoramos, a nossa casa, ao nosso trabalho. Estavamos limitados a viva-voz e headsets Bluetooth, nada comparado com o que vimos este ano. O cenário felizmente mudou.
Nos dois últimos anos, iniciativas de grandes montadoras vem conquistando espaço no competitivo mundo dos carros e, mais importante, nas mentes dos consumidores. E na movimentada CES de 2012, foi surpreendente ver o comprometimento das montadoras em fazer carros cada vez mais conectados. Nessa saudável guerra tecnológica, quem ganha é o consumidor.
A americana Ford foi a pioneira. Em 2007 apresentou a tecnologia Sync, que está disponível em alguns modelos a venda no Brasil. Os números divulgados pela Ford durante a CES foram impressionantes: até 2015, nove milhões de carros Ford terão instalados sistemas Sync. O sistema permite acessar, via comandos de voz (inclusive em português), diversos recursos do carro. O tradicional viva-voz Bluetooth permite conexões rápidas e ligações mais seguras, com acesso as informações através de telas no painel e comandos no volante. O acesso a biblioteca de músicas é feito por voz e os mesmos comandos vocais sintonizam rádios convencionais e por satélite (nos EUA). Um pequeno HD armazena dados e o sistema tem entrada para MP3 players e cartões SD.
No sistema da Ford, a navegação é mais que um GPS fixado com ventosa no para-brisas do carro. O usuário pode enviar endereços e dados do Google Maps de seu computador de casa ou escritório diretamente para o carro. E o sistema responde a comandos de voz, como nos sistemas de viva-voz e áudio.
Os chamados serviços Sync, contratados a parte, permitem acessar informações de empresas e outros negócios, caminhos menos congestionados, condições do tempo, bolsas de valores, cotações financeiras e serviços de viagem. Porém a grande novidade é a interação com smartphones e tudo o que eles podem proporcionar.
A montadora criou condições para que os desenvolvedores de apps permitissem o controle deles através dos comandos do carro, sejam eles físicos ou por voz. Com isso, surgiram apps para sintonizar rádios online (iHeart Radio, Pandora), ler Twitters interessantes, e muitos outros estão a caminho. Todos puderam ser testados no grande pavilhão da Ford, que aproveitou a feira para mostrar o novo Ford Fusion, que também era o carro oficial do evento.
Mas não foi só a Ford que trouxe novidades. A subsidiária da Blackberry QNX apresentou uma plataforma compatível com HTML 5 para fabricantes de carros. Altamente conectada, a plataforma foi apresentada num belo Porsche Carrera e deve ser adotada por algumas montadoras pela simplicidade e baixo custo.
A General Motors, voltando em grande estilo, trouxe o seu sistema OnStar, que também será aberto a desenvolvedores para a integração de apps. O sistema permite socorro rápido em qualquer lugar do continente americano, bem Sua concorrente Chrysler, agora sob os cuidados do grupo Fiat, levou um belo caminhão onde demonstrou o UConnect, tecnologias semelhantes a da Ford para seus veículos. As coreanas Kia e Hyundai também demonstraram novidades. A primeira, com um sistema chamado UVO, que é basicamente o Sync da Ford/Microsoft com reconhecimento de voz e a segunda, com o Bluelink, algo semelhante ao sistema da GM.
A Audi caprichou no novo A3. Mesmo sendo um modelo de entrada da marca, o A3 tem equipamentos de fazem inveja aos A6 e A7 bem mais caros. Uma tela de sete polegadas LED, muito fina, sai de uma fresta no painel e mostra dados de um computador que usa o Nvidia Tegra 2. Imagens do Google Earth e em 3D do carro permitem navegação e ajustes fáceis.
Outra tecnologia usada pela Audi e apresentada por vários fabricantes é do Heads Up Display (HUD). Como nos caças de guerra, as informações mais importantes do veículo são projetadas para o motorista, que pode conduzir ser tirar os olhos da pista.
A Mercedes trouxe seu sistema Mbrace2, que conta com os aplicativos Yelp e Facebook, entre outros. Belas imagens do serviço Panoramio e do Google Street View, integradas aos mapas do sistema de navegação proporcionam uma navegação bem mais interessante e segura para os motoristas e tudo é obtido online através de uma conexão 3G permanente. O novo sistema Mbrace2 da Mercedes inclui funções de segurança como avisos de emergência, destravamento remoto de portas e rastreamento do automóvel.
A CES está deixando de ser uma feira de produtos eletrônicos de consumo apenas para tornar-se uma feira onde tudo é conectado. E os carros, cada vez mais, vão deixar de ser meras vitrines para sistemas de som exagerados. Serão os lugares onde passaremos cada vez mais tempo, infelizmente. E se é para ficar preso em engarrafamento, nada melhor que segurança e estar muito bem conectado com o trabalho, com os amigos e com as pessoas que amamos, não?
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